Empurro o carrinho de bebê no calçadão em direção à praia.
O mar está calmo. Não existem ondas rebeldes como na vida.
O calor do sol daquela tarde me causa certa agonia.
Ele olha para o horizonte, curioso a respeito do que vai se passar em seguida.
Travo o carrinho. Caminho até sua frente e retiro o cinto. Ele remexe as perninhas em alegria. É o gosto da liberdade à caminho.
Pego-o no colo e ele gruni um pouco. Não sabe falar ainda, seus dedos, o balançar da cabeça e o guturar são a sua forma de se comunicar com o mundo. Ele aponta para o mar. Eu obedeço, desço a escada bem devagar, tentando me equilibrar com o seu peso e manter o passo firme.
Estou de tênis, mas ele está descalço. Coloco-o de pé devagar. Seus pés tocam a areia. Percebo os dedinhos se moverem em curiosidade. Logo as mãos se abaixam e seguem o embalo. Ele as afunda naquele chão fofo. Retira as mãos, as afunda de novo. Abre e fecha. Pega um punhado e olha com atenção. Punhados e mais punhados são, então, jogados para todos os lados. Ele anda um pouco. Descobre em seguida que o mesmo chão onde pisa mais adiante é feito dos mesmos grãos. Suas pegadas pequeninas marcam o caminho de sua descoberta.
Ele vê uma pedra. Pequena pedra branca, quase em triângulo, do tamanho de uma palheta. Ele me olha e me entrega. Com os olhos pede que eu guarde o tesouro achado como um presente. Eu agradeço. Sou sua guarda, sua mochila, sua confiança. Obedeço. Ele esquece e anda, volta a caminhar, desta vez bem mais rápido. Eu corro para acompanhar, tentando lhe fazer alguma sombra. O sol queima minhas costas. Ele caminha com alegria, rumo aos pescadores que se organizavam aguns metros mais adiante.
O calçadão da orla acaba e do quintal de uma das casas surge um gato siamês, de coleira vermelha. Tinhoso, o gato passa por ele e vem se enrolar aos meus pés. Ele procura o gato. Faz um carinho. Tenta puxar o seu rabo. Os dois giram voltas ao redor das minhas pernas. Acho graça e já não sei mais em quem quero fazer cafuné.
O gato foge e sobe a escada rumo ao seu quintal de origem. Ele corre atrás do gato, quer subir as escadas, o tenta e faz. Eu deixo, baixo a guarda e o coração amoleço, mas vou logo atrás arrependida, e o retiro da propriedade alheia.
Ele chora. Lágrimas de revolta e empurrões dolorosos de me solta comprimem meu tórax. Ele não sabe o que é finitude. O remorso e a agonia preenchem o meu peito.
“As coisas acabam, por que acabam?”
“Por que aquilo não pode durar para sempre?” — gritam as lágrimas de um rosto mudo.
Também me pergunto, meu filho.
Por que certas coisas não podem durar para sempre…
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