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Areia no deserto

Foto do escritor: Izabella CristoIzabella Cristo

Eu aqui pensando como essa coisa de afazeres e obrigações é um areia movediça.

Estás de pé lá no alto. Pleno e digno de contemplar o horizonte.

De repente, avistas algo. Pode ser uma nuvem. Um sonho. Uma miragem.

Começas a te mover lentamente e já nos primeiros passos percebes que teus pés estão mais fundos no chão.

Tens medo. Não queres mais o sonho. Ele está tão distante!

Queres te agarrar a alguma coisa concreta. Esse negócio de andar por areia fofa não é muito sólido.

Encontras algo que te chame a atenção do lado. Geralmente um objeto. Pode ser um carro a poucos metros.

Vais atrás dele, rápido. Não cuidas de andar devagar e afundas até os joelhos.

Mesmo assim, alcanças o carro e te agarras nele, para que não afundes mais. Esse carro bem que poderia estar na garagem de uma boa casa. Avistas ela a poucos metros de distância. Quando ela surge, sentes uma pressão e a areia sobe até a cintura.

Seguras na porta do carro, tentando se soltar da areia, mas teus movimentos já não são mais os mesmos. Não tens a mesma liberdade.

Mesmo assim, te viras. És homem de força e luta. Consegues te soltar um pouco e vês a casa vazia. Queres ela cheia de objetos.

Ela pesa mais quando as coisas surgem. Estás com areia até o pescoço agora.

Até que tens sorte. Surge alguém para te estender uma mão. Uma pessoa nova no horizonte.

Se esse alguém andar devagar e não quiser tantas outras coisas, será o suficiente.

É alguém livre.

Mas se esse alguém cometer os mesmos erros, pode te afundar até mais rápido e afundar-se também.

A vida é assim. Estás tranquilo. Lembras que tem alguma coisa a fazer. Um compromisso.

Se for algo fértil, vai vir terra. Senão, só enches de areia ao teu redor.

O detalhe é que quem coloca e escolhe a areia da gente somos nós mesmos. O livre arbítrio dos compromissos próprios.

De fato ficar parado não dá muito certo. Mover-se é necessário. O sol de um dia inteiro queima, o frio da noite exige agasalho.

Fato também que se tivesses andado leve e manso na areia dos sonhos bons ou a tivesse misturado a adubo fértil, teu caminho até ela seria longo, porém menos complicado.

Estou aqui pensando na minha areia movediça. Em quais terras e vasos eu quero plantar. Quais as areias quero me arriscar ou mover.

Compromissos.

Compro a missão ou dou um sumiço?

A vida há de me dizer.

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